Ponte... nas Ondas!

Cores do Atlántico

Um trabalho de divulgação musical sobre as cantigas de amigo que oferece uma nova perspectiva do género mais autóctone da nossa lírica medieval, numa dupla dimensão: a interpretação teórica da catedrática holandesa Ria Lemaire Martens e a interpretação musical da canta-autora brasileira Socorro Lira. Ilustrado por Quique Bordell.

Uma iniciativa da compositora brasileira Socorro Lira, o projeto nasceu no ano 2006 com o início da sua pesquisa sobre as Cantigas de Amigo Paralelísticas, para edição de um CD com versões cantadas de parte desses textos conservados. Ampliado e no formato livro-disco, foi publicado em 2010, em galego e em português, por Ponte…nas Ondas! e Pai Música, na Espanha e em Portugal.

Um trabalho literário

A argumentação teórica assenta sobre a origem de uma tradição oral sustentada por mulheres. Uma tese defendida pela especialista em literatura medieval em línguas românicas e Doutora pela Universidade de Utrech, Ria Lemaire.

Ria Lemaire, especialista em literatura medieval e Professora da Universidade de Poitiers, publica um trabalho de divulgação sobre as cantigas de amigo galego-portuguesas, encaradas como as primeiras mostras do património cultural galego-português, que nos chegaram por via culta, mas que são, em seu entender, os primitivos cantos de mulheres.

Ria Lemaire faz uma leitura inovadora do contexto e do significado destas cantigas, encaradas como expressões de uma tradição oral que se mantém viva no território de origem e nos outros lugares onde chegou quer por processos de colonização, quer levada por emigrantes, mais tarde.

Um trabalho musical

Do ponto de vista musical a canta-autora brasileira Socorro Lira faz uma leitura contemporânea da melodia das cantigas, integrando as sonoridades galegas, portuguesas, africanas e, especialmente, brasileiras; espaços que partilham o património cultural da lírica galego-portuguesa. Desde os ritmos brasileiros como a ciranda, o samba, o batuque, o baião, o congo, o aboio ou a toada nordestina.

Com arranjo de Jorge Ribas, Cores do Atlântico integra as sonoridades de três continentes unidos por um património comum: a lírica das cantigas de amigo galego-portuguesas.

Do Brasil, a compositora e cantora Socorro Lira reúne vozes tradicionais como as das Cirandeiras de Caiana de Crioulos, juntamente com as colaborações de Margareth Menezes-a Maga e Cida Moreira. De África, a guineense Eneida Marta empresta a sua cálida voz aos ritmos de Guiné-Bissau como o gumbé, a morna ou a singa. João Afonso e Teresa Paiva introduzem a expressão portuguesa e a sonoridade da gaiteira do Porto. Na Galiza, são as vozes de Leilía e Uxía as que recriam as cantigas que outrora cantaram as mulheres, neste território de origem da lírica medieval galego-portuguesa.

Um trabalho artístico

O artista galego Quique Bordell dá a sua contribuição plástica através de ilustrações que combinam a colagem e a sobre-impressão, numa proposta vanguardista baseada nas letras das cantigas de amigo.

Quique Bordell é uma das referências artísticas mais interessantes no panorama da arte galega moderna e a sua obra tem sido relacionada com a de Tápies ou com a de Mestre Dubuffet.

 

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